bailaroska

Bailaroska. (Quase) desde sempre e para sempre. Mesmo quando as pernas já não executarem um perfeito arabesque, quando os pés não aguentarem as pontas e o equilíbrio se for. Porque mais do que uma ocupação, ser bailarina é um estado de espírito e um modo de vida. O meu. Aqui fica o relato das minhas piruetas, dentro e fora dos palcos...

quarta-feira, dezembro 02, 2009

E acabou

Por aqui, a contagem decrescente terminou uns dias antes. Fruto da azáfama dos últimos dias. Sábado passado num vai e vem de casa para o Teatro, a levar os últimos adereços, horas a fio num ensaio geral onde tudo correu mal, a fugir da chuva que não parava de cair.

Domingo é dia de estreia, difícil conciliar o sono. Chega-se cedo ao teatro, para ensaiar mais uma vez o que correu menos bem, para verificar luzes que no dia anterior não funcionaram, para almoçar (mais uma vez massa!!) no chão do corredor entre os camarins, para pentear e ser penteada, pintar, aquecer, gritar em coro e finalmente... dançar.
Abro o espectáculo: a responsabilidade continua a tolher-me as forças das pernas e não consigo ser eu, libertar-me e aproveitar o meu sonho. Mas a dose de nervos esgota-se naquele minuto e meio. 30 segundos para trocar de roupa, ali mesmo na pernada do palco, e entrar novamente: e agora sim, acompanhada das outras bailarinas, danço com alma, com gosto, com pés firmes no chão ou pernas bem lá no alto.
O 1º acto termina depressa. Com igual rapidez trocamo-nos de freiras para desengonçadas marionetes. Que gozo me dá este papel!
3º acto: soldados. O longo marchar em cima das pontas é penoso, mas só nos apercebemos no final.
Durante o espectáculo, nas pernadas, vamos torcendo pelos nossos colegas, sentindo um nervoso miudinho por eles, torcendo as mãos nas partes que sabemos serem mais dificeis, dando pulos de alegria quando algo lhes sai bem, sentindo a felicidade deles em nós.
Nos agradecimentos, sorrio de felicidade. O saldo foi francamente positivo!
Segunda e terça a jornada repete-se. Com igual sucesso.
No descer do último pano, as lágrimas correm-me já pela cara. Abraçada a duas amigas que se comportam como eu, ouço: "Estas choram sempre". É a Paulinha, de 10 anos, que ainda não percebe a dor de ver um pano fechar definitivamente sobre um trabalho que começámos a preparar há mais de um ano e que apresentámos 2 vezes. Que ainda tem anos de palcos pela frente e não percebe o doloroso que é pensar no pouco tempo que me resta a mim em cima deles...
Para enxugar as lágrimas, nada melhor que o jantar que se seguiu, com bailarinos, professores e técnicos. Será possivel rirmo-nos e divertirmo-nos cada vez mais? Cantando versões hilariantes de músicas conhecidas, observando os mais cómicos imitarem os maneirismos de cada um dos bailarinos do espectáculo e rindo até à exaustão, penso no quão feliz sou junto daquelas pessoas, fazendo o que mais amo na vida. E desejo que não acabe nunca.

2 Comments:

  • At 3/12/09 11:04, Blogger Taralhoca said…

    Minha bailaroska se o Lexotan enxotar a nostalgia pós-espectáculo está autorizada a tomá-lo.
    Não há bem que sempre dure, mas não há bem que não deixe grandes fotos, grandes amigos e grandes memórias.
    Enquanto o teu bem dura (e ainda estás aí para as curvas) não penses já no que há-de vir, porque as fotos, os amigos e as memórias não vão a lado nenhum.

     
  • At 3/12/09 14:52, Blogger paula said…

    tu não eras assim, mariana noiva maria! quem sempre foi nostálgica por antecipação fui eu e não cedo o meu lugar!!

    beijo beijo :)

     

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