bailaroska

Bailaroska. (Quase) desde sempre e para sempre. Mesmo quando as pernas já não executarem um perfeito arabesque, quando os pés não aguentarem as pontas e o equilíbrio se for. Porque mais do que uma ocupação, ser bailarina é um estado de espírito e um modo de vida. O meu. Aqui fica o relato das minhas piruetas, dentro e fora dos palcos...

segunda-feira, outubro 26, 2009

Este domingo matei um pouco a saudade do meu gosto pelos cavalos. Contrariando as nuvens negras do céu, a multidão que aproveitava o último dia de feira e a minha antipatia pelo novo local que há já muitos anos a acolhe, fui à Agrovouga ("feira do bovino e do cavalo").

As boxes cerradas com grades davam pouca margem à interacção com os cavalos. Valeram-nos os pequenos poneis (não os de crinas rosa e roupas a condizer que davam na tv quando era pequena), que pela sua pequenez escaparam às mais rígidas normas de segurança e se nos mostravam ao ar livre, à distância de um carinho nas suas pequenas frontes.

E lembrei-me de quando era miúda, orgulhosa dona de um poneizinho de nome Poli, mansinho que só ele, que inaugurou este amor que ainda hoje mantenho. Depois dele, veio a Jóia, que deu à luz a Kiki, rebento este já partilhado com os primos.
Até aos 13 anos a minha montada fora sempre estes pequenos cavalinhos, cujo andamento era picado, fazendo-nos saltar ritmadamente. Chamavamos-lhes as "máquinas de costura".

As pernas já iam longas e a entrada para a equitação levou-me a montadas mais altas. Das éguas mansas, passei para animais com mais personalidade, às vezes quase esquizofrénica, e era um desafio ganhar-lhes a confiança e domar-lhes o espírito.
Da cumplicidade construída todas as semanas, nascia uma grande amizade entre cavaleira e cavalo. Amizade tão grande essa, que por duas vezes ter sido abruptamente interrompida, me causou dos maiores desgostos da minha vida.

Em casa do meu avô, que me legou a sua paixão, ainda que em menor medida, por ser imensurável a adição que tem por estes animais, estes deixaram de existir. Ainda que rijo e vivaço, o médico aconselhou a prudência. Resta um picadeiro bem cuidado, as boxes vazias e uma sala com os mais belos e cuidados arreios, cuja falta de uso não fez com que o meu avô deixasse de cuidar religiosamente deles, brilhando como sempre.
Ao fim de 10 anos, a equitação também foi deixada para trás.

Mas tendo já passado tanto tempo desde a última vez, ontem senti a mesma ligação que outrora, ao olhar nos seus grandes olhos, ao passar a mão pelo seu pelo. Um senhor, ao ver-me fazê-lo, adverte "Cuidado, eles são falsos" e eu sorrio e respondo "não se preocupe";
e sei que estou bem.

1 Comments:

  • At 30/10/09 22:55, Blogger Taralhoca said…

    Não tinhas boxe, tinhas palheiro. Não tinhas arreio reluzentes, tinhas carroça.
    Eu também sinto a tua falta Russinho...
    (e é todo o comentário que este post me permite... o facto do teu avô ainda limpar os arreios embarga-me a escrita)

     

Enviar um comentário

<< Home