O Meu Natal
Chegada por volta das 16. A casa ainda está fria. A ainda ausência da multidão não justifica a lareira acesa.
Na mesa, as travessas fumegantes de aletria e formigos acabados de fazer. A tentação de cortar logo uma fatia. Os primeiros sabores do Natal.
Começam os preparativos: fritam-se rabanadas, cortam-se tronchudas, descascam-se batatas. Aos poucos a casa enche-se. A lareira já crepita e é seguro despir o casaco.
A noite cai e mesmo antes da ceia o estômago já está forrado das diversas iguarias que chegam das terras de cada um.
Um cd de Natal acompanha o bacalhau regado com muito azeite e alho.
É a vez dos pais dominarem o palco dos espectáculos. A bola passou para o lado deles e é em espanhol e inglês, com direito a maestro de saca-rolhas em riste, que nos entretêm antes da hora dos presentes.
Já não somos crianças há muito, quase todos adultos, mas ainda assim somos enviados para o nosso quarto de chamamento de pai natal. Não há os gritos de outrora, mas cumpre-se a tradição.
Os embrulhos são rasgados à pressa; há que sair para assistir à missa do galo a 15m de distância. Na Igreja fria, assistimos a uma homilia tão surreal quanto o presépio ao lado do qual nos postamos: durante 50 minutos, o pároco lê-nos entusiasmado um conto que de natalício tem muito pouco (uma prostituta angolana que dá à luz um filho de um militar português, que só passado uma década - e assim pareceu durar o relato - o reencontra em terras lusas).
Só posso imaginar quão pior terá sido o sermão do padre de Alijó...
O presépio de que falo tem 2 manequins de loja vestidos com as roupagens de Nossa Srª e de S. José, com os olhares vagos e algo sedutores de Barbie e Ken que esses bonecos costumam ter, os quais se encontram rodeados de uma parafernália de animais (entre os quais alguns patinhos de borracha, sapos estrábicos, galinhas de louça para colocar ovos, crocodilos de plástico com lagartixas às cavalitas and so on...)
É por entre risos que reentramos no calor da sala, onde ainda reina a confusão de papéis amachucados, presentes espalhados e comida sobre a mesa.
Algumas rabanadas e bombons depois, com um olho na Mary Poppins e outro no Eriksson recém recebido, com o relógio a passar para lá das 3, deito-me sob o peso de mil e um cobertores.
A rotina da manhã de 25: pequeno-almoço demorado e muito açucarado, programação natalícia na televisão e pijama até tarde.
A chuva lá fora e o dia perfeito para estarmos todos em casa, até tarde. Hoje ninguém tem pressa. Não há trabalhos de casa para fazer, exames a preparar ou namoradas para visitar. Os manos Marques voltaram (finalmente) à boas e voltam a provocar gargalhadas constantes na família. O avô também não fica atrás e com mais um copinho de vinho é ainda mais falador e castiço que normalmente.
Por volta das 20h a casa fica vazia. Na rádio, uma emissão especial de Natal leva-nos pelos êxitos de todos os tempos e de todos os gostos. Chegamos a casa ao som de Wham, "Last Christmas".
Mais um Natal que termina.
3 Comments:
At 27/12/07 17:03, Taralhoca said…
Amore, gosto dos teus Natais. Cheiram, soam e sabem a calor.
Como os meus.
At 27/12/07 20:36, Anónimo said…
Bom Ano
At 30/12/07 02:07, Willow said…
Tu, Bailaroska, és uma guerreira temerária na defesa do espírito do natal. Palminhas!!!
Palminhas e um beijo grande a servir de despedida de 2007. Que 2008 te traga um natal com ainda mais algazarra e alegria!
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