bailaroska

Bailaroska. (Quase) desde sempre e para sempre. Mesmo quando as pernas já não executarem um perfeito arabesque, quando os pés não aguentarem as pontas e o equilíbrio se for. Porque mais do que uma ocupação, ser bailarina é um estado de espírito e um modo de vida. O meu. Aqui fica o relato das minhas piruetas, dentro e fora dos palcos...

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Somewhere over the rainbow

Passados alguns dias, a dor que me invadia a cada minuto vai diminuindo, sendo substituída por uma saudade mansinha...
Embora seja impossível não estar constantemente a pensar "há uma semana estava a fazer isto, agora aquilo...", sou já capaz de fazer o relato de uns quantos dias maravilhosos (embora me pareça que muito poucas pessoas encontrem nele algo interessante...)

5ª Feira
8h da noite. Rumo ao Teatro, entrando pela "porta dos artistas", pela qual não passava há mais de 3 anos.
Empurro a porta que dá acesso ao palco: a escuridão em que este se encontra mergulhado contrasta com a luminosidade da plateia e o balcão, ainda sem público, imersos num absoluto silêncio. Os adereços já se encontram devidamente posicionados, prontos a serem usados.
Uma porta mais e entro no ambiente festivo dos bastidores. Frente a frente, o camarim dos solistas e o do staff são os mais animados. Em frente aos espelhos com luzes, bailarinos, técnicos e professores afadigam-se em pinturas, penteados e preparativos vários. Em cima da bancada, misturam-se sombras, rímeis, frascos de gel, pacotes de bolachas e invólucros de chocolates.
As nossas estrelas são coladas nas portas.
Fazemos, então, o 1º ensaio no local, o qual se prolonga para lá da meia noite.
Numa excitação quase infantil, custa-me conciliar o sono.

6ª feira
A manhã de trabalho passa a correr, na ânsia da tarde que se avizinha.
A plateia está repleta de miúdos de várias escolas do concelho que vieram assistir ao ensaio aberto. Uma pequena estreia, ainda sem o brilho da mesma mas já com o peso de alguma responsabilidade.
Os nervos afloram à pele e ao coração e o meu solo corre desastrosamente... Para levantar o ânimo, nada como o apoio dos colegas, que com as suas piadas me fazem rir e com os seus abraços me confortam, bem como um hamburger à Ramona repleto de calorias para repor as energias perdidas.

Glinda e Leão

Sábado
O grande dia. A grande noite.
Começa bem cedo, com entrada às 9h da matina no espaço que começamos já a considerar a nossa 2ª casa. Ensaio geral com todos os participantes, dos 2(!!!!) aos 29 anos.
Enquanto não chega a nossa vez, da plateia apreciamos o espectáculo já montado, aplaudimos os nossos amigos e ajudamos as mais pequenas a prepararem-se.

O apelo do Teatro é grande, pelo que após uma breve fugida a casa para petiscar algo, estamos de volta. Pela milésima vez quero repetir o meu solo, mas os pés doridose as unhas pisadas pedem descanso, pelo que nos limitamos a um agradável convívio, saboreando as últimas horas antes da abertura do pano.
Cheira a estreia.
Na sala de ensaios, aquecemos os pés e o corpo e extravasamos as energias no nosso já habitual grito colectivo.

Nas televisões instaladas nos nossos camarins, observamos a chegada do público. Temos casa cheia!
A música começa. O espectáculo, preparado com tanto cuidado ao longo de tantos meses, é finalmente apresentado aos olhos de 3ºs.
Tudo corre bem e os minutos passam a correr.
Chega o 3º acto: a Fada do Sul está nervosa, apesar do Victan tomado umas horas antes. A adrenalina cresce à medida que a música que antecede a minha termina. Enfrento, finalmente, o público: de alguma forma, consigo acalmar-me e até aproveitar os minutos para oa quais tanto ensaiei.
O pano cai e festejamos o sucesso da bossa apresentação. À saída, os elogios não se fazem esperar. "O melhor espectáculo de todos", ouve-se repetidamente por todo o átrio.
Acompanhada pelas pessoas que me vieram ver, sigo feliz para casa.

Fada do Sul e Dorothys

Domingo
Ponto de encontro: 12h, Majestik, onde recordamos a noite que todos concordamos ter sido fantástica.
Mas não há tempo a perder, pois mais dois espectáculos, também eles lotados, nos esperam. O aquecimento é substituído por momentos de danças malucas e palhaçadas que nos dispõem bem.

O espectáculo da tarde, muito graças às dores terríveis de pés, não me é muito famoso, mas em geral corre bem.
Ainda falta uma última apresentação, mas a angústia do fim começa a apoderar-se de mim.
Os pés latejam de forma insuportável, as unhas sangram, mas ao entrar em palco esqueço tudo e penso em dar o meu melhor.

Bruxa e Corvo

Quando a Dorothy se eleva nos "céus" pela última vez, as lágrimas são incontroláveis; os agradecimentos, ao som de "Somewhere over the rainbow", e últimos festejos são já banhados pela torrente de saudade do que acabou de terminar.
Abraço um por um os colegas desta longa caminhada, recordando tardes passadas entre gargalhadas, gritos e suor.

O mundo de Oz fechou as suas portas à E.B.A.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

O que fica depois do sonho?...

O aperto no coração ao recordar os momentos vividos tão intensamente. O desejo louco de voltar atrás no tempo para os saborear de novo e o desespero de o saber impossível.

Os vestidos pendurados na porta do quarto que consigo trazem os cheiros do Teatro, da ansiedade e da emoção.

O saco mal arrumado transbordante de ganchos, frascos de gel, caneleiras, pinturas e pacotes de bolachas abertos.

As flores oferecidas pela Joca, pelos pais e pelos amigos num gesto sentido de parabéns.

A angústia de querer voltar a empurrar a porta escura que dá acesso ao palco, atravessá-lo e ser inundada pelos camarins; sentir o aroma da laca ("hora da laca!!!") e do Picalm no ar; empurrarmo-nos em frente ao espelho para nos pintarmos e pentearmos com a ajuda de uma mão amiga; partilharmos bolachas e bebidas energéticas que o corpo não precisa mas o espírito pede.
Querer tudo isto e não poder.

Só me apetece estar com aqueles que entendem até ao pormenor estas palavras; com aqueles que num extravasar de energias comigo deram as mãos e gritaram em uníssono, com aqueles que partilharam conversas sem nexo, experiências com hélio e idas consecutivas à casa de banho para aliviar tensões; com aqueles com quem num abraço apertado chorei quer o sucesso quer o fim da magia.

Custa olhar para o calendário e este marcar o dia 19. Custa saber que este terminou a sua contagem decresecente e que o momento pelo qual tanto ansiávamos já passou.

Durante meses vivemos no mundo mágico de Oz, entre Munchkins, Quadlings e Winkies.
Tal como a Dorothy, acordo e volto à realidade. E esta não é feita de estradas de tijolos amarelos, de chupas gigantes ou de cidades de esmeraldas.

Para lá do arco-íris não há mais nada...
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sábado, fevereiro 17, 2007

Noite de estrelas

Não seremos propriamente o Bolshoi, o Royal Theatre ou o Ballet da Opera de Paris, mas hoje sentimo-nos como verdadeiras estrelas.

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Desde 5ª que o Teatro tem sido a nossa 2ª casa e o palco o nosso chão.
Tudo está ensaiado.
Resta agora esperar a subida do pano e sentir a energia do público.


Espero também que logo à noite esta estrela brilhe um pouco mais, porque tem sido decadente...
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E agora vou a correr para o Teatro...

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Update

O ponto de partida
A abertura do meu Cartório. Dia 1 de Fevereiro, abri portas numa cidade estranha, mas que tenho vindo a descobrir ser acolhedora. A tensão que antecedeu a inauguração deu lugar a algum receio inicial, que tem vindo a desaparecer com os primeiros clientes. Poucos, é verdade, mas confio que o tempo aumentará o seu número.

O dia
14 de Fevereiro, rumo a Leça para um jantar no nosso restaurante favorito. Embora o ambiente continue deliciosamente italiano, os aromas e temperos de outros tempos já não são os mesmos. Uma veradeira decepção... nada que umas tulipas amarelas não mitiguem...

A excitação
A partir de hoje começa a saga Feiticeiro de Oz.
Dentro de alguns minutos colocaremos pela 1ª vez os nossos sapatos de pontas no palco pelo qual ansiámos ao longo do ano, num ensaio das 20h às 24h.
Amanhã à tarde, o 1º vislumbre ado espectáculo que ao longo de meses preparámos com afinco e amor, num ensaio abertó às escolas da região.
Sábado de manhã, bem cedo, o ensaio geral com todos os participantes, já com a excitação de faltarem apenas algumas horas para a grande estreia.
Sábado à noite, o momento tão ansiado desde Outubro: a abertura das portas aos pais, amigos, conhecidos e incógnitos que nos vêm ver. Abriremos as portas para o mundo mágico de Oz, procurando transmitir aos outros a alegria que esta história nos proporcionou enquanto a preparávamos.
Domingo à tarde e à noite, cansados mas felizes, repetiremos o evento para mais olhares curiosos.
E esperaremos com ansiedade as críticas dos presentes...